quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

O que é ser índio


     Os habitantes das Américas foram chamados de índios pelos europeus que aqui chegaram. Uma denominação genérica, provocada pela primeira impressão que eles tiveram de haverem chegado às Índias.
Mesmo depois de descobrir que não estavam na Ásia, e sim em um continente até então desconhecido, os europeus continuaram a chamá-los assim, ignorando propositalmente as diferenças lingüístico-culturais. Era mais fácil tornar os nativos todos iguais, tratá-los de forma homogênea, já que o objetivo era um só: o domínio político, econômico e religioso.
       Se no Período Colonial era assim, ao longo dos tempos, definir quem era índio ou não constituiu sempre uma questão legal. Desde a independência em relação às metrópoles européias, vários países americanos estabeleceram diferentes legislações em relação aos índios e foram criadas instituições oficiais para cuidar dos assuntos a eles relacionados.
      Nas últimas décadas, o critério da auto-identificação étnica vem sendo o mais amplamente aceito pelos estudiosos da temática indígena. Na década de 50, o antropólogo brasileiro Darcy Ribeiro baseou-se na definição elaborada pelos participantes do II Congresso Indigenista Interamericano, no Peru, em 1949, para assim definir, no texto "Culturas e línguas indígenas do Brasil", o indígena como: "(...) aquela parcela da população brasileira que apresenta problemas de inadaptação à sociedade brasileira, motivados pela conservação de costumes, hábitos ou meras lealdades que a vinculam a uma tradição pré-colombiana. Ou, ainda mais amplamente: índio é todo o indivíduo reconhecido como membro por uma comunidade pré-colombiana que se identifica etnicamente diversa da nacional e é considerada indígena pela população brasileira com quem está em contato".
       Uma definição muito semelhante foi adotada pelo Estatuto do Índio (Lei nº. 6.001, de 19.12.1973), que norteou as relações do Estado brasileiro com as populações indígenas até a promulgação da Constituição de 1988.
     Em suma, um grupo de pessoas pode ser considerado indígena ou não se estas pessoas se considerarem indígenas, ou se assim forem consideradas pela população que as cerca. Mesmo sendo o critério mais utilizado, ele tem sido colocado em discussão, já que muitas vezes são interesses de ordem política que levam à adoção de tal definição, da mesma forma que acontecia há 500 anos.

Fonte: O que é ser índio. Disponível em <http://www.funai.gov.br/indios/fr_conteudo.htm> 29/01/2014.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Heranças étinicas, Bantos e Iorubás no Estado do Rio de Janeiro

      Na virada do século XX, em consequência da abolição da escravatura e da decadência da cultura do café no Vale do paraíba, ocorreu um deslocamento expressivo dos negros Bantos daquelas fazendas para a cidade do Rio de Janeiro, em busca de trabalho para sobreviver. Destituídos de qualquer espécie de bens - durante a escravidão lhes era proibido qualquer tipo de acumulação capitalista e de poder social - chegavam por terra, pela estrada de ferro, e se localizavam nos subúrbios, tendo como núcleo a região das estações de Madureira e Dona Clara. Esses negros se distinguiam bastante dos Iorubás, negros chegados da Bahia pelo mar, ao mesmo Rio de Janeiro, cerca de 30 anos antes - por volta de 1870 - instalando-se na própria Zona do Porto e nas ruas próximas. Estes, parte de uma elite econômica e social da etnia afro-descendente, interferiam na sociedade em que foram inseridos, conhecida como Cidade Nova. O próprio fato de serem livres e poderem se deslocar de Salvador para a Corte quase duas décadas antes da promulgação da Lei Áurea, quando os de mais ainda eram escravos, já os coloca em singular superioridade social. 
      Os Bantos, ao se instalarem naquela zona do subúrbio do Rio, encontraram-na bem semelhante às fazendas de onde tinham vindo - sem saneamento básico, sem calçamento nem iluminação, transporte só por tração animal e habitações rústicas, com vacas, cabritos e cavalos pastando soltos pelos becos e vielas. Eles mesmo não alteraram os próprios hábitos: vestiam-se rusticamente e raríssimos possuíam calçados. Na palavra objetiva de Antonio Rufino dos Reis, fundador da Escola de Samba Portela, "naquele tempo, Madureira era a roça". Entre as bananeiras dos terreiros, nas noites de lua, dançavam o jongo e o caxambu, nesse tempo ainda ungidos de caráter religioso, mais tarde assimilando outras crenças de outras nações africanas, dos caboclos descendentes das tribos indígenas brasileiras, dos portugueses, dando origem a uma nova religião tipicamente carioca, chamada genericamente de macumba.
      Em contrapartida, os baianos (iorubás) moravam no centro da cidade, em casas de aluguel de vários cômodos. Vestiam-se com esmero, nos moldes do figurino europeu das classes dominantes, e sobreviviam de atividades semelhantes às dos demais imigrantes portugueses, árabes e judeus que com eles conviviam, pequenos artesãos, comerciantes ou membros das corporações urbanas que se iam constituindo, como a Repartição Geral dos Correios e Telégrafos e a Guarda Nacional, da qual foi membro Hilário Jovino, um dos seus líderes de maior relevância, grande animador cultural. Já Tia Ciata, a mais conhecida das matriarcas, possuía uma pequena empresa que dava trabalho a cerca de dez pessoas, dedicada ao comércio de alimentação e vestuário. Seu marido era funcionário da Chefatura de Polícia. Os pais do conhecido cantor e compositor João de Bahiana eram proprietários de um pequeno estabelecimento comercial. Os baianos mantinham, da forma mais autêntica possível, a religião herdada do ancestral nagô, o candomblé, com seu panteão de orixás.
      Foi esse grupo de baianos (iorubás ou Jêjes- Nagôs) o grande animador do movimento dos ranchos, que dominaram o carnaval até o final dos anos 20. A marcha-rancho, música produzida para os desfiles carnavalescos e executada por verdadeiras orquestras de sopro e cordas, representava a exteriorização do poder econômico dos componentes, muitos deles, como Pixinguinha, instrumentistas eméritos do gênero Choro, a mais importante música popular instrumental dessa terra.
      A partir do final dos anos 20, entra em cena o grupo de Madureira e adjacências (os Bantos ou Angola-Conguenses), criador do samba e das escolas de samba, grupamento carnavalesco cujas orquestras baseavam-se exclusivamente em instrumentos de percussão, em virtude da própria condição econômica e cultural, que não permitia que fosse diferente.
       

Referância bibliográfica:

Silva, Marília Trindade Barboza da Depoimentos de Grande Otelo, Haroldo Costa, Zezé Motta. Rio de Jnairo: MIS Editorial, 2003 172p. Cap. 2. Texto retirado integralmente.

Sorriam, o NEABI voltou!

     


   
      O NEABI está de volta das férias e a partir da semana que vem a nossa nova programação será divulgada. Fiquem atentos e não percam a nossa reestreia!