terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Onde está o negro na televisão brasileira?

         Muita gente não presta atenção, mas a ausência dos negros na programação da TV brasileira é impressionante. A ausência do negro encontra-se não só na televisão, mas também em vários outros espaços socialmente representativos. É difícil encontrar negros trabalhando como advogados, médicos, arquitetos, engenheiros... O negro é etnia predominante entre os garis, as domésticas, faxineiros e outras profissões de pouco prestígio. Quando o negro aparece na televisão  a realidade não é diferente. E essa realidade está vinculada à ideia de que o negro representa o feio, o maléfico ou incompetente. No Brasil, o negro ainda aparece estigmatizado, depreciado, desumanizado, adjetivado pejorativamente, ligado a figuras demoníacas.
        A novela Viver a Vida, exibida em 2009, tinha como protagonista a atriz negra Thais Araújo (que também foi protagonista em Da Cor do Pecado). No entanto foi obrigada a viver uma cena humilhante na qual sua personagem teve de pedir desculpas de joelhos, após levar um tapa no rosto, para a personagem da atriz Lília Cabral. O espaço ocupado pelo negro na televisão do nosso país é tão pequeno que chega a ser difícil de ser notado. Ainda assim todas as ações movidas pelos movimentos negros em repúdio as posturas racistas da televisão brasileira são tachadas de coercitivas à criatividade artística, como se o desrespeito e o racismo fossem mecanismo imprescindíveis para concepção de uma obra de arte.
      Em Amor à Vida, novela das 21h que deixou de ser exibida no último sábado, gerou polêmica. Não estou falando aqui do beijo gay, mas do fato de não haver atores negros na trama. O autor, Walcyr Carrasco, disse:  "não foi intencional, mas quando criamos personagens, muitas vezes estamos pensando em um determinado ator ou atriz, independente de raça, mas a prioridade se ele se identifica com o personagem". Então, na minha opinião, o autor não pensa em atores negros quando cria suas personagens. Para se defender dos protestos foi escalada para a trama uma atriz negra, que não estava no script original da novela.
      No livro Consciência Negra encontra-se o seguinte depoimento de Zezé Motta: "Encontrei uma colega, uma pessoa que eu adoro, que comentou: que sucesso! Eu vi no jornal que você foi para os EUA, e aí? O que você manda? Eu falei, estou procurando emprego! Fui, foi ótimo, mas a vida continua. Ah, mas fique tranquila, vai ter sim, eles estão começando duas novelas, não é possível que não tenha uma empregada!"
    Sugiro que pense em reality shows, novelas, programas, comerciais de TV, personagens de desenhos animados, apresentadores de programas infantis... Pense em todos os segmentos de TV e perceberá que a resposta não é tão difícil.

- Por Érica da Silva Ribeiro, estudante do 2º período de Licenciatura em Letras.

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